Ele não entendia porque só aquele pinheiro nunca crescia, apesar de seus cuidados, e ele imaginava, acho que este pinheiro não cresce é de tristeza, pois dona IRONDINA quando- o plantou disse:
--Você será o pinheiro, mas bonito da região, pois irei decorá-lo com muito amor e carinho, em todos os Natais de nossas vidas, e você vai encantar as crianças daqui de casa, as dos vizinhos e das visitas. Mas o destino a levou daqui antes que ele crescesse, e com a ida dela acho que ele perdeu o entusiasmo. Em um daqueles dias, olhando para frente da casa o fiel zelador continuava a pensar, - pensar era só o que ele poderia fazer, pois vivia sozinho a quatorze anos. Pensava que a casa precisava de reforma, ou pelo menos uma pintura. O tempo, o sol e a chuva estavam deixando-a em ruínas, só a frente da casa continuava bonita, por ter a parede revestida em pedras, o restante das paredes eram pintadas de azul, e a cor já quase nem se via mais. A dedicação do senhor DICO era tanta que em um dia destes, especialmente, naquele dia ele logo se lembrou de entrar e arrumar os quartos, e como sempre parece que ele não imaginava que as crianças já haviam crescido, trocava as velhas roupas de cama, tirava o pó dos moveis, passava o pano úmido no assoalho desbotado, colocava os carrinhos em ordem e a bola em um cesto atrás da porta, em seguida ia para o quarto das meninas e fazia a mesma coisa. Em cima das duas camas, colocava as bonecas e os ursinhos de pelúcia, os quais estavam amassados e encardidos pelo tempo.
Terminou a limpeza do quarto dos patrões, também colocando o tapete cuidadosamente no lugar, os chinelos de dona IRONDINA e do senhor Eurípides na posição correta para descer-se da cama.
Terminando suas tarefas, trocou a água e as flores dos vasos, escolhendo e colhendo-as no jardim com muito cuidado e carinho. Em seguida fez seu pequeno almoço e após a refeição foi rumo a gruta, onde havia uma pequena mina de água, a mesma que abastecia a casa. Era lá que ele mataria a saudade das crianças, por ser o lugar preferido delas, pois havia muita sombra e vários lugares para brincar de esconde-esconde. Além dos pés de cajuzinhos que eles encontravam no caminho, andando lentamente ele começa a recordar, como se fosse realidade, lembra-se das crianças correndo e gritando, e da pequena GLEICY KELLY que na época só tinha três aninhos, e não soltava sua mão, e sempre, dizia:
--Eu não vou correr senão eu caio ne tio Dico. --e ele:
--É princesa, vamos devagar pra você não se machucar. --com as lembranças ele andou por toda área do terreno que era um alqueire e meio. Voltou a casa, pois já estava tarde e ele ouvia vozes, era um fazendeiro que de vez em quando passava para ter um dedinho de prosa com o Senhor DICO, tomar um copo de água e uma xícara de café. Também já aproveitavam para pôr os assuntos em dia, ao entrarem, sentaram-se na varanda, que era bem arborizada, com várias samambaias e outras belas plantas penduradas, as quais dava ao ambiente. Um ar fresco e uma beleza que encantava a todos que ali sentavam, conversaram e tomaram café, até bem tarde, tão tarde que o Senhor Joaquim se assustou, quando viu que havia escurecido e ele precisava ir- se embora. O Senhor DICO insistiu para que ele dormisse e fosse de manhã, mas ele não podia, pois Dona Madalena, sua esposa, ficaria muito preocupada, mas mesmo assim ele esperou o Senhor DICO esquentar o jantar e passar um Café quente, com isto, deu tempo para o Senhor Joaquim perguntar pelos patrões do Senhor DICO, e ele respondeu o de sempre, desde que eles viajaram eu não tive nenhuma notícia, continuo aqui cuidando de tudo, mas as vezes acho que eles não voltam mais, ou pelo menos não me encontrarão vivo, o que seria uma pena, pois gosto muito deles e sinto muita saudades de todos. E como o senhor que vivia solitário, não tinha muito assunto e o jeito era repetir os mesmos de sempre, fala sobre seu pagamento, diz que ele recebe no correio, e depois já passa no armazém para fazer suas compras e sempre lamenta por não receber nem uma cartinha dos patrões, pois já que ia ao correio depositar o dinheiro, porque não desperdiçar um pedacinho de papel com uma cartinha para ele, mas mesmo assim, ele gostava tanto daquela família que justificava dizendo:
--Acho que eles não me escrevem por saberem que eu não sei ler, mas se eu tivesse o endereço deles iria pedir o senhor João do armazém para escrever uma carta a eles e explicar que poderia escrever que eu pedia alguém pra ler para mim. Assim eu não me sentia tão sozinho. Principalmente quando o Natal se aproxima como agora, que além da saudade ainda tem a solidão.
--Imagine! O senhor na noite de Natal aqui sozinho, sem ao menos ter alguém a quem desejar-lhe um feliz Natal, só vendo as luzes e os fogos iluminando toda a região. --O senhor Joaquim aproveitou a oportunidade e o convidou para passar o natal em sua casa, e ele contente, ficou de pensar.
Os dois se despediram e o Senhor DICO entrou, ligou seu velho rádio de pilha, deitou -se no antigo sofá da sala como o de costume, mas isto não seria novidade, ele sempre adormecia ali curtindo sua solidão e ouvindo uma boa música caipira, e só acordava de manhãzinha com o cantar dos pássaros ou no meio da madrugada com a coruja que dormia em um mourão velho, bem na frente da casa. O senhor Dico tinha aquela coruja como sua amiga, e dizia_ em pensamento: “É coruja você é a única que se preocupa comigo e com minha coluna, parece que sabe que estou no sofá e precisa me acordar para que eu vá pra cama.
Mas naquela mágica noite tudo parecia diferente! Á solidão e a melancolia daquele dedicado senhor estava maior_ o deixando mais tristonho. Porém, ele com seus pensamentos! Pensou em voz alta dizendo:
--Devo estar assim é porque conversei com o senhor Joaquim.
Assim ele acabou adormecendo...
Mas como aquela noite realmente, era noite de mistérios o Inesperado aconteceu! O Senhor DICO_ acordou no meio da madrugada com um grande SUSTO, um susto tão grande que ele por alguns instantes ficou mudo, pois acordou com a casa cheia de gente, e com dona IRONDINA olhando para ele e sorrindo.
Quando ele se despertou completamente, e passado o impacto do susto, dona IRONDINA disse lhe:
--Senhor DICO que saudade e que alegria por estarmos juntos novamente.--após um grande abraço, um café reforçado, eles foram conversar na varanda tomando o ar fresco da noite, e apreciando as belezas do jardim, o perfume das flores que o vento suavemente o fazia adentrar - se no ambiente e em suas narinas, além de pequenos ruídos de animais ou de algum pássaro que dormia nas árvores ao redor da casa, e que de vez enquanto interrompia o silêncio daquela mágica madrugada, a qual já estava sendo interrompida, com perguntas e respostas acumuladas há tanto tempo, que não daria para esperar o amanhecer, ou pelo menos dizer as mais importantes.
Com a curiosidade de Dona IRONDINA em saber de seu pinheiro, logo ela lhe perguntou:
--Senhor DICO, e o Jardim como está? --mas antes mesmo que ele respondesse a primeira pergunta, ela já fazia a segunda.
--E o pinheiro, está grande? —ele respondeu que está em ordem, e com a voz calma como sempre, disse:
--O jardim está lindo e com todas as roseiras floridas, como a senhora já deve ter percebido pelo cheiro, mas o pinheiro não cresceu nada, acho que ficou triste com sua falta, pois o que adiantaria ele crescer se a senhora não estivesse aqui para decorá-lo como lhe prometeu.
Ela respondeu sorridente:
--Então se alegrem e vão dormir, amanhã vocês conhecerão o milagre do amor! Ele vai amanhecer bem grande, tão grande que vocês ficarão espantados com o milagre. E eu o decorarei somente com bolas douradas, em forma de coração, ele será o pinheiro mais lindo que todos vocês já viram e ouviram falar em todas suas vidas, e em todos os Natais, de ontem, de hoje e de todo o sempre. Os filhos de Dona IRONDINA e do senhor Eurípides já crescidos e brincalhões, sorriram e disseram-lhes:
--Vamos dormir e acordar, ou seja levantar bem tarde. Dona IRONDINA disse, pois eu vou dormir e levantar-me bem cedo, para ver o jardim, o pomar e em especial o meu pinheiro.
Deitaram todos e dormiram o sono dos Anjos, menos Dona IRONDINA, que ansiosa para o dia amanhecer, já nem dormiu, passou o resto da noite na janela olhando e apreciando o silêncio daquela saudosa madrugada e de vez enquanto algum ruído de pássaro vinha lhe trazer na mente o quanto a vida ali tinha valores incalculáveis.
O senhor DICO levantou as sete horas da manhã, com o coração cheio de alegria pois depois de tanto tempo novamente ele poderia arrumar a mesa e preparar o desjejum da família, logo imaginou vou primeiro ao pomar colher algumas frutas fresquinhas para deixar a mesa farta e bonita, como ele era acostumado a viver pensando, pensou e lembrou-se das palavras de Dona IRONDINA ainda recentes em sua mente e decidiu passar pela frente da casa só para dar uma olhadinha no pinheiro, e mais uma vez ficou estremecido, não acreditava no que via! Lá estava Dona IRONDINA debaixo do pinheiro que tinha crescido tanto que sua patroa estava de pé debaixo dele sem que sua cabeça tocasse suas folhas.
O que ele via em sua frente até parecia uma miragem, o pinheiro além de grande, estava com as folhas tão verdes, que brilhava com o sol, que batia suavemente em seus galhos. Dona IRONDINA pediu ao Senhor DICO que convidasse todas as pessoas da região, principalmente as crianças, para vir cear com eles naquele Natal e ver o pinheiro decorado.
Assim à noite estava lá, todas as luzes, brilhando e refletindo por todos os cantos do jardim, lotado de gente e com muitas crianças, todas pessoas felizes, sorrindo e Encantadas, e só ouviam sussurros, pois todos estavam assustadoramente encantados com a deslumbrante beleza daquele pinheiro e diziam baixinhos, é um milagre, o milagre do Amor, que só se explica e podemos comemorar com o nascimento de Jesus.
Ironita Mota